sábado, julho 31, 2004

Batom Vermelho

Hoje eu vou fazer um teste: vou falar só a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade. Estou de saco cheio de tamanho nhenhenhe, tanta hipocrisia babaca. ninguém fala mais a verdade. Está todo mundo preocupado em manter a pose, em fazer joguinho e eu estou de saco cheio. Se o cara só quer me comer então chega logo e fala: oi, eu quero te comer ou então não vem com cantada barata dizendo um bando de clichê. Eu também não vou mais ficar aqui fingindo que gostei e que me senti especial e isso ou aquilo. Esse papo está muito chato.
Ninguém mais opina em nada, porque se opinar é tachado de radical e aí sua imagem fica rotulada. Então o artista não pode mais dizer o que pensa porque pode não agradar a gravadora, o patrocinador, o telespectador e mais não sei quem. Não vão querer associar nada`a imagem do cara e aí ele perde dinheiro. neguinho se auto-censura por dinheiro! puta que pariu! não pode mais dizer o que pensa porque seu ponto-de-vista pode não ser vendável e então fudeu. ah! que merda é essa!
A mesma coisa com o amor. Ninguém pode mais dizer o que pensa pro outro, ser espontâneo, ligar, ser natural. isso pode assustar o outro. pode parecer querer compromisso, limitar liberdades. vai pra puta que pariu. ninguém mais quer dar de si, dizer o que sente, o que pensa, pode parecer infantil, pode parecer intenso demais.



Pois eu sou intensa e que se foda. eu não vou ficar aqui fingindo, me auto-controlando. eu sou assim, penso assim e pronto.
vou me testar hoje. se chegar em mim vai saber na lata que eu sou assim, nota 0 ou nota 10, nota 6 pra mim não funciona. Tenho horror a meio-termo. Quer ou não quer. Ou vai ou racha. Não quero ficar mais gastando meu tempo com palhaçada, Essa retórica idiota de depende.
Depende é o caralho. Eu estou me assumindo hoje. Coloquei meu batom vermelho. Sei que vai ser foda bancar essa porra toda mas não vale a pena de outro jeito. Hoje chega de fachada.

quinta-feira, julho 22, 2004

Associações Livres

"Como o adivinho me disse em Atenas, você está andando em círculos procurando o caminho claro e aberto. Você nasceu para trazer a alegria e iluminação para o mundo, mas primeiro tem de aceitar a si própria e parar de se esconder atrás de máscaras inventadas pelos outros. Você tem sinais de divindade, mas seus pés estão acorrentados à terra"
Jong, Erica, 1940 - Memória Inventada pg. 165.

Me lembro do sonho que tive no ônibus em direção à Antigua Guatemala:
Estava com um amigo, os dois diante de uma cigana. Ela tirou três cartas. A primeira tinha figuras mistas de seres humanos e animais e senti a cigana se referir a festas e novidades.
A segunda me deixou bastante intrigada. A cigana me passou uma angústia pelos olhos receosos que me miravam preocupados. Na carta estava eu olhando adiante uma escada com degraus curtos e patamares longos. Ao final existia uma porta. Fechada. Tudo tinha um tom meio amarelado, tive a sensação de deserto, uma sensação que conheço. No primeiro patamar a minha frente vi um crânio, ossos sem pele e pensei no que ele significava para satisfazer a curiosidade sobre tudo que poderia estar por trás daquela porta distante.

A terceira carta era nublada, enfumaçada. O que vi foram silhuetas de faces desfiguradas. Faziam interseção e assim a névoa se misturava.



Uma noite me perdi nas ruelas de Varanasi. As ruas eram escuras e sujas. A atmosfera sombria não passava medo e sim mistério. Eu e Chyntia saímos tarde do concerto de sitar que assistimos no terraço de um hotel. Fomos convidadas por um brasileiro, o único que encontramos pelo Oriente. Percorríamos as vielas em busca de um tuc tuc, bicicleta, qualquer transporte que nos deixasse no hotel que estávamos hospedadas. Andando por um longo tempo percebemos que sempre passávamos pelo mesmo ponto. Uma fogueira. Homens sentados em volta do fogo, ele, o fogo, nos trazia sempre para o mesmo ponto. 


terça-feira, junho 22, 2004

nó na garganta

Estranha esta coisa da minha voz. Eu sempre achei ela um tanto infantil, aguda. Um dia escutei a minha voz no som de um gravadorzinho. Senti uma coisa esquisita, um estranhamento de mim mesma. Como posso ter uma voz tão feia! Pareço uma menina metida e insolente… eu fiquei envergonhada, me sentindo um mísero ser humano daqueles bem normais que têm paranóias e complexos completamente bobos mas que sabem que isso é perfeitamente ordinário. Todo mundo têm essas coisas dentro de si, esse medo de parecer ridículo. Ou pelo menos eu tenho .

Outra festa eu encontrei uma amiga que me supreendeu. Disse que algo tinha mudado em mim, que tinha a ver com a minha voz. Senti um calafrio: como assim ela sabe?

Eu estou trabalhando muito minha voz.

Trabalhando eu uso muito a minha voz. É a minha principal ferramenta. Eu tenho que articular, formular idéias, conversar…falo muito. Começo escrevendo, esta é na maioria das vezes, a primeira etapa. Depois pego o telefone. Aí eu tenho que falar pra caralho. E a voz é muito importante! como poderia eu ter aquela voz de pirralha metida e melosa. Tenho que ter uma voz que carrega outros conceitos, nunca uma bobinha dando pinta de graciosa.

E ela reparou cara! Ela reparou o meu esforço em passar determinação, concisão, objetividade, confiança. Parece tão idiota, como me sinto ridícula realizando isso para mim mesma (ou será eu mesma) que eu me auto reprimi quanto `a minha voz, incorpando-a, tornando-a uma voz visualmente grande. Foi uma decisão tão íntima..relacionada a meus pensamentos mais lá dentro, que só eu sei..e que parecem tão pertinentes, tão grandes para mim e que ao mesmo tempo são tão pequenos, tão tipicamente humanos e que por isso TODO mundo tem.

Se funcionou ou não….sei lá. hamse hamses e saravas a parte eu me desgastei. passei do limite. Estou há dias com um incômodo na garganta.. não é dor de garganta clássica, de tosse de gripe não. É um incômodo que deixa minha garganta seca e arranhada.

Somatizei.

quinta-feira, junho 17, 2004

Sex and the city

Asian Groove,

Recebi um convite para o lançamento do selo Putumayo no Brasil. O convite me remeteu a momentos que vivi nos tempos de reviravolta da minha vida. Toda lojinha que entrava no universo raribô americanóide tinha lá CDs Putumayo..que são até interessantes. São releituras de canções folclóricas de culturas pelo mundo afora feitas por DJ...world music no estilo lounge.
O lançamento foi no 00, restaurante no estilo SEX and the City, que parece aqueles bares descolados para comercial de Campari. Para esta balada obviamente chamei minha amiga no estilo Samantha. Lá fomos nós.

De cara a gente saca que é um mundinho tão específico..de gente meio gávea-leblon... eu sou garota do Flamengo..zona sul mais humilde.. mas estamos com bala na agulha e pedimos drinks! Mojito foi minha pedida..
Lá pelas tantas nos surpreendemos com um carinha usando fio dental nos dentes em pleno comercial de campari! O cara estava acompanhadíssimo de outro cara...cada um na sua...o cara não queria ficar com sujeira nos dentes afinal de contas estava, quem sabe, num date com seu querido.

Tinha 1 cara meio coroa com um colete meio turco. O cara parecia meio fotógrafo da National Geographic estiloso... gatoso..ficamos olhando pra ele. Ele sacou. Mas não deu em nada.

O que rendeu foi o sorteio! Não faço o tipo que ganha em sorteios mais saí de lá com um CD Asian Groove... gostosinho... fomos mais espertas que a Carrie e a Samantha. Elas sempre são barradas nos restaurantes em NYC. Estamos longe de Mannhattan mas não pagamos entrada, bebemos drinks, fizemos pose de chique e ainda voltamos para casa com um CD no bolso...
Há!

quarta-feira, março 31, 2004

Me senti nua

Texto que escrevi no avião, regressando de Nova York

Nua sem meu bloco laranja

Chuva. Muita chuva caindo em Nova York nesta tarde de terça feira. Atrasada pego o meu onibus rumo ao aeroporto JFK na Times Square e assim, olhando a chuva pela janela, digo adeus a Mannhattan.
Chego em cima da hora, faço o check in e ninguém me pergunta nada, ninguém revista nada e eu entro correndo pelos corredores do aeroporto para chegar o meu portão de embarque. Meu destino é o Rio de Janeiro com escala em Atlanta onde tenho que trocar de avião. Já embarcando o oficial do departamento de imigração do governo dos Estados Unidos pede meu passaporte e desconfiado de não sei o que, pede que eu aguarde ao lado. Enquanto esperava reparei que os passageiros eram abordados de forma aleatória, mas somente não americanos eram abordados. Concentrei minha atenção `as perguntas que o oficial fazia ao mineiro também “pescado” entre os passageiros na fila de embarque. O oficial parecia querer encontrar alguma coisa. Perguntou o porque da viagem, se o brasileiro havia trabalhado nos EUA…em um determinado momento ele chegou a dizer:: “onde esta o green card falsol?” O mineiro soltou uma gargalhada brasileira, daquelas bem gostosas e disse: “isso você ano vai encontrar de maneira nenhuma companheiro.”
Chegou a minha vez. Um dois oficiais já havia começado a fazer as perguntas de praxe e eu repetia: “sou mochileira, estava viajando pelos Estados Unidos” quando o outro oficial, aquele preocupado em mostrar serviço para as autoridades, começou a revistar a minha bolsa de mão. Ele perguntava o que eu vim fazer no país e eu repetia: “sou mochileira” . Ele dizia que algo estava errado no meu visto porque nele estava escrito “possibility of studying english” e eu havia dito que tinha decido não estudar. “ vc mentiu as autoridades” ele dizia. Com arrogância ele continuava: “Quantas vezes vc veio aos Estados Unidos? Duas? Você pode ter certeza que eu vou assegurar que está seja a última vez e que você não possa mais voltar a este país…como vc consegue dinheiro para viajar?” Eu expliquei que havia juntado um boa quantia de dinheiro e que, sendo jornalista independente, eu escrevia matérias e tentava vendê-las a veículos de mídia independente no Brasil, assim eu fazia dinheiro enquanto viajava.
Então ele encontrou meu bloco laranja. Este bloco é como um diário para mim, onde eu anoto meus contatos, minhas fontes, informações sobre tudo que acho interessante, meus pensamentos mais absurdos. Ele se achou no direito de ler meu bloco laranja. Com meia dúzia de palavras que sabia em português começou a especular sobre minhas anotações. Endereços, telefones, ele perguntava: “aonde vc trabalhou?” e eu não trabalhei em lugar nenhum! Sou jornalista, viajo em busca de histórias e este bloco é meu instrumento de trabalho! Uma das anotações correspondia a palestra de Ellen Scherder que, na conferência “reframing 9/11” comparou a política de segurança interna adotada pela administração Bush `a era Mcartney quando comunistas eram perseguidos pelo governo americano. O oficial começou a rir com o que tinha lido e em voz alta lia ao colega: “ela compara Mcartney a Bush”. Ai eu me irritei mesmo. Primeiro, não fui eu quem comparou, foi Ellen Scherecker…..segundo que, mesmo que eu achasse isso, é a minha opinião, escrita no meu bloco laranja! “Quem disse que vc pode invadir meu espaço desta maneira? Vc esta lendo o meu diário! Quem lhe deu este poder? Ele respondeu “O departamento de imigração do governo dos Estados Unidos que é responsável pelo controle de entrada e sadia de pessoas como vc para assim assegurar proteção ao nosso povo”. Certo. Enato o governo americano cria uma lei que permite a invasão da minha privacidade, cidadã brasileira?

Ellen Schereder na mesma palestra disse: “O Patriot atc é uma invasão em nossas casas justificada pela proteção do nosso povo”.

sexta-feira, março 05, 2004

Depois de 6 meses...a chuva lava minha alma

A chuva anunciou sua chegada com uma nuvem cinza, bem ranzinza. Estávamos descendo as ladeiras de Santa Teresa conversando, platicando…Carolita se mudou há pouco tempo para Santa e fala com carinho sobre o brilho e simplicidade do bairro.
De repente a chuva veio e com força descarregou tudo em cima da gente, das casas, dos carros, dos cachorros. As pessoas paravam e conversavam embaixo da marquise tagarelando absurdos do dia a dia.
- Eu gosto deste tipo de chuva. Aquela que fica em cima da gente nos seguindo, fininha, fininha, é muito civilizada. Esta é uma chuva visceral. Disse Carolita.
Nesta altura a chuva já tomava conta dos nossos corpos e as roupas estavam praticamente encharcadas. O guarda-chuva que ela trazia já tinha se tornado irrelevante.
Virando uma esquina daquelas de curvas bem fechadas que desenham o percurso até Santa avistamos um carro e imediatamente percebemos a possibilidade de uma carona já que o motorista estava sozinho. O engraçado é que nossos olhares se cruzaram e instantaneamente eu soube o que se passava na cabeça da Carol e na dele também: ele sentia que devia ajudar.
Entramos no carro e a viagem demorou o tempo dos comentários superficiais sobre a chuva. Descemos próximo a estação de metro e lá nos separamos. Carolita tinha uma promessa a cumprir. precisava comprar a camiseta do Flamengo, foi a promessa que fez depois que o time ganhou a final contra o fluminense, um clássico no maraca em meio ao sábado de carnaval carioca.
Eu estava indo pra casa. Decidi que iria saltar na estação do Largo do Machado e não no Catete, assim a chuva poderia demorar um pouquinho mais…esquisitices, já que a viagem demoraria apenas duas paradas, ou seja, não faria diferença nenhuma. Desci as escadas do metrô Glória e reparei num cara. Ele estava segurando uma mala de instrumento musical e olhava de um jeito meio de quem nunca tinha estado ali. Eu sentei na bancada que fica logo depois da escada e fiquei reparando nele enquanto seus olhos esbarraram no meu. Entramos no mesmo vagão, eu numa ponta e ele na outra. Em pé, ficamos desviando um olhar do outro.
Sai bem rapidinho e vi ele olhando para trás pra ver se eu ainda estava lá. Subi as escadas pensando na cena e logo vi que a chuva não tinha melhorado. Subi as escadas rolantes e me deparei com vendedores de guarda-chuvas. Espertos perceberam a possibilidade de fazer algum dinheiro no instante que a nuvem ranzinza avisava o dilúvio que chegava. Eu, parada na saída do metro junto aqueles que esperavam a chuva passar, fiquei a pensar que não tinha nem o dinheiro de comprar um guarda-chuva.
-cinco real, apenas cinco real o guarda-chuva.
Eu nem cinco real tinha. O senhor que vendia me alertou sobre minha bolsa aberta.
-jovem, olha a bolsa aberta. Tinha olhos azuis bem fortes.
-eu já ia comentar, tinha reparado. Disse o rapaz atrás de mim,
-de qualquer maneira, nem tenho dinheiro. Abri a carteira e encontrei 4 reais. – nem um guarda-chuva posso comprar!
O senhor de olhos azuis foi logo perguntar ao chefe se podia vender por 4 reais
-não posso não..o preço já tá bom. Disse o chefe. Ele havia comprado a mercadoria e chamado outro cara para vendê-la. Foi então que o rapaz atrás falou:
-toma aqui. Um real.
Olhei pra ele com agradecimento calado, sentido. O senhor de olhos azuis foi logo entrando na onda:
- Tá vendo! Tem sempre alguém pra nos ajudar. Eu sou espirita minha filha, sei que nada nos faltará, nem um pãozinho porque sempre alguém haverá de dividir. Essa terra é muito boa. Pra vc vê dizem que foi descoberta pelo Pedro Álvares Cabral mas não foi
- Ué? Se não foi por ele por quem foi? Pergunto eu.
- Minha querida, como se pode descobrir algo que já foi descoberto? Isso aqui era dos índios. Eu sempre digo aos alunos: Cabral não descobriu nada.
- O senhor é professor de história?
- Sou, sou sim..
- Vamô parar com essa conversa fiada e trabalhar! Gritou o chefe.
Eu fui embora com uma sensação muito estranha. Estranha por ser boa e ao mesmo tempo ruim…tem muita gente boa ainda no planeta, especialmente no Brasil. Mas o que um professor de história fazia na porta do metrô vendendo guarda-chuva?

Mas me senti feliz, estou de volta ao Brasil!

quarta-feira, janeiro 07, 2004

Existindo

Neste fim de semana a porta da verdade se abriu. Um grande mestre da Cabala veio promover um workshop sobre o misticismo judaico.
Numa certa noite o mestre tocou o seu tambor e pediu a todos que fizessem perguntas. poderia ser qualquer coisa, dúvida, questão.

Eu acredito que Deus existe simplesmente para me fazer saber que eu não sei de tudo. que eu nunca terei todas as respostas.
Se Deus é tudo e eu também sou Deus,
eu nunca saberei de tudo,
eu nunca saberei tudo sobre mim.
O dia que eu souber será o dia de minha morte.
Isso significa que eu não preciso sentir a angústia e a dor por não saber e gastar fortunas com horas e horas de terapia semanal!
o não saber é que garante minha existência.

Não saber de tudo então é que me faz estar viva?

Um dia um Rabino falou para seu discípulo: você deve viver como se fosse o dia anterior a sua morte.
Então o discípulo perguntou: Mas eu não sei o dia que eu vou morrer.
O Rabino disse: Exatamente!


You have to put yourself in the middle.
to put yourself in the middle you have to go from one extreme to another.
you have to go to the darkness to find the light.

Assim foi este ano, indo de um extremo para o outro. Em fevereiro estava no México pensado jornalismo autêntico dentro do contexto latino americano...investigando o dedo podre americano na realidade latina. Fui a Cuba, para mim um símbolo de extremo. A resistência pura e crua ao imperialismo sujo americano, o último pilar, mesmo que cambaleando, contra a globalização. Eu fui lá, eu vi tudo lá, eu senti tudo lá....

Agora estou aqui, do outro lado, nos Estados Unidos. Estou digerindo isso aos poucos. O que sei é que, ao contrário de todas as viagens que eu fiz onde parece que estou em outra dimensão, onde não tenho muitas preocupações e tal, minha viagem aos Estados Unidos foi muito real. REAL. Aqui não tive romantismos e ilusões. Enfrentei o a vida real, sem maquiagens, perfume ou sei lá o que.

quinta-feira, janeiro 01, 2004

Revira e volta

31 de dezembro de 2003
são 9:30 da noite.
Estou numa casa enorme construída por volta de 1800. Vários cômodos, vários quartos, muitos e muitos quadros, obras de arte e mil vezes mais livros. eles estão por toda a parte.
passei a tarde escrevendo poemas em pedaços de papel que colocamos dentro de velhos pés de meia, de crianças, e penduramos num grande varal. cada pessoa escolhera uma meia e guardara seu poema como uma mensagem para o ano que chega.
daqui a algumas horas.
pensar no ano que passou e pensar em muitas viagens, aventuras, lugares, pessoas, culturas e junto com tudo isso, muitas expectativas.
eu esperei que tudo fosse blue
azul e limpo como o céu, sem nenhuma nuvem, nenhum trovão.
me enganei
ano existe céu claro sem tempestade
felicidade sem tristeza
amor sem desilusão

que este ano seja colher os frutos de tanta aprendizagem
tanto amor e tanta dor

terça-feira, dezembro 30, 2003

O Fim

As ultimas palavras que ele me disse ficam circulando em meu pensamento e de lá correm o meu corpo me deixando toda contraída. não consigo esquecer aquelas palavras. tudo que eu pensei que fosse verdade, tudo que pensei que tínhamos construído se desmoronou num único instante, em poucas palavras, silabas, letras..em menos de um minuto.

A minha dor e daquelas que ficam como um zumbido no ouvido e que de repente faz aquela lagrima incontrolável correr meu rosto em silencio.

Eu não tinha outra sadia. a hipocrisia seria a pior maneira de continuar aquela situação. viver de pequenos alívios, pequenas ilusões de felicidade.

Mas eu tenho mais forca hoje. sou mais eu. não queria mais um fantasma rondado minha vida, me enchendo de expectativas. não queria aquela esperança tola de que algum dia ele iria bater a minha porta e me dar aquele abraço confortante.

Desta vez eu não quis ir ate a ultima ponta. Meu limite foi o ponto onde minha dignidade ainda poderia ser preservada. dali em diante eu só iria me machucar ainda mais com os carinhos que ele não me da, com o amor que ele não demonstra por simplesmente não sentir. dali em diante eu só iria me sentir mais vazia a cada manha ao despertar depois de um sexo sem sentimento.

foi melhor assim.
assim eu não deixo meu coração secar de tanto se machucar. assim eu ainda posso acreditar.

segunda-feira, dezembro 29, 2003

Cruel truth

I prefer to live because I still love you
I think this is the best opcion
Why?
Cause I can't love you when I can't love who I am
I don't know what I'm doing right now
So I can't love anyone else...

segunda-feira, dezembro 22, 2003

Viva a sociedade alternativa

Interessante a situação que eu estou vivendo no momento morando numa comunidade alternativa em plena terra do tio Sam.. olha como são as coisas..logo nos Estados Unidos eu fui encontrar um lugar desses. Outro dia eu estava trabalhando na cozinha comunitária e me veio a cabeça como seria uma idéia muito interessante para o desenvolvimento do interior do Brasil.
Tudo cresce em terras brasileiras, tudo. Somos tão férteis, tão vivos. Por que tanta pobreza? O.k., tem a história de concentração de renda e tal. Mas eu acho que no fundo o brasileiro não sabe é se organizar. Talvez nós sejamos muito criativos mais criatividade não é só ter boas idéias, é tb saber viabilizá-las.
O americano é bom nisso pra caramba, ele sabe ganhar dinheiro. Rowe Conference Center significa um grupo de pessoas com pensamento comunitário que resolveu viver junto e ganhar dinheiro junto. A comunidade está situada nas montanhas de Massashusetts, um lugar de natureza exuberante. Existem habitações para os que moram aqui e existem quartos de hospedes para os que visitam o local durante as conferências que são realizadas no centro de convenções criado no campus da comunidade. Ou seja, a renda das conferências sustenta a comunidade. São workshops sobre artes e filosofia. Existe um grupo de voluntários (eu sou um deles) que participa da vida comunitária por um tempo e ajuda na manutenção do centro. Em troca, ganha a oportunidade de participar gratuitamente de todas as conferências que aqui são realizadas.
O nome desta história se chama "Intencional Comunnity". Ao todo são mais de 100 na região de New England. Cada uma com o seu jeito de fazer dinheiro. Pode ser um bonito hotel, agricultura, cursos de culinária, yoga, artes..
Eu traduziria para Comunidades Vocacionais. Um grupo de pessoas com vocação para arte ou o que seja, decide viver em comunidade e reunir forças para, em conjunto, se auto-sustentar.
Não seria uma boa idéia para o desenvolvimento do interior do brasil? Pescadores, agricultores, carpinteiros, rendadeiras...gente que tem algo em comum. Assim este povo reuniria competências para enfrentar o grande mercado. Para que ir para a cidade grande em busca de um trabalho que lhes tira a dignidade e viver empilhado numa favela?
Eu acho que seria uma boa alternativa...

quinta-feira, dezembro 18, 2003

O Batuque do Bronx

Este fim de semana foi sensacional. Ubaka veio do Bronx promover um workshop sobre percussão. Um grupo de mais de 30 pessoas veio atrás carregando seus respectivos tambores. A afro americana transmitiu seus conhecimentos sobre a arte da batucada e eu me senti em casa. suei em plena tempestade de neve. foi ótimo!

Despedidas

mais um grupo de amigos indo embora...fizemos uma despedida super legal. existe uma tradição aqui em Rowe: toda vez que alguém vai embora separamos um tempinho para apreciá-las. eu as aprecio muito.
Tim e Tina formam o casal mais afetuoso que eu conheci nos Estados Unidos. enquanto os outros estão receosos em demonstrar afeição em público, Tim e Tina compartilham com todos a sua volta o amor que sentem entre si. Ele toca violão para ela e ela canta para ele. os dois formam uma dupla linda, vibrante e cheia de luz. Margareth é um amor de pessoa. nos seus mais de trinta anos, ela tem as dúvidas que nós, na casa dos vinte, ainda temos. porém Margareth não tem aquela ansiedade toda...serena..serena..ela é super compreensiva. papo ótimo. Eva tem aquele senso de humor nova yorquino. sarcástica! cursou filosofia mas não se deixou dominar pela seriedade. é super espontânea e pra cima.
eles formam o grupo de jovens que eu mais me senti conectada aqui na terra do tio sam. talvez pela simplicidade, talvez pela humildade. gente do bem com quem eu finalmente troquei muito.

depois de viajar tanto eu já sei prever o futuro das relações que criei nas minhas caminhadas..já sinto saudades daqueles que nunca mais verei.

sábado, dezembro 06, 2003

eu quero escrever tanto. parece que agora que alcancei meu maior obstáculo, minha ferramenta, eu não consigo fazer com que meu pensamento se transforme em palavras. preciso encontrar um ponto de partida. eu cheguei tão longe comprando este lap top que nunca conseguiria comprar no Brasil. acho que precisaria de anos e anos de trabalho duro para conseguir pagar minhas contas, me divertir e ainda juntar dinheiro suficiente para comprar.
depois de tanta expectativa e ralação eu comprei o tão desejando computador. até me senti mal de desejar tão profundamente um bem material. um objeto. mas é que, na verdade, este materialismo alcançaria algo muito importante.

quinta-feira, dezembro 04, 2003

Rowe Conference Center



No pacote Rowe veio muita coisa boa..comida saudável, natureza impressionante, lugar aconchegante, pessoas interessantes, experiência profissional, pessoal...mais obviamente alguma coisa tinha que ser lado B.

eu sabia que esta coisa de viver em comunidade é muito bacana, desperta uma curiosidade. Eu que já morei neste esquema em Kibutz e lá na Ilha da gigóia sei muito bem que não é tão paz e amor assim. rola muito atrito porque simplesmente a gente vê mais a cara do outro.
mais o lance aqui não é nem esse. eu simplesmente desligo quando não quero interagir e não me sinto nem um pouco encucada com isso. desligo o áudio e fico no mute total. ainda mais porque falo inglês constantemente e isso as vezes cansa. eu sei ficar comigo enquanto estou com outras pessoas. acho que adquiri isso depois de tanto viajar especialmente quando viajo só e interajo muito com gente momentânea.
o lance é que americano se amarra numa terapia de grupo. eu já saquei qual é: quando vc fala, coloca para fora, coisas que te afligem no momento, problemas que te deixam deprimido e tal, aquilo se torna menor. parece que dá um alívio. e alivia mesmo...essa coisa de grupo simplesmente ajuda porque vc minimiza seus problemas expressando-os para outras pessoas. vc relativiza seu problema ao realizar que as outras pessoas tb têm problemas...
mais isso na verdade não resolve problema nenhum! por mais que vc sinta um alívio, o problema ainda esta aí. guardadinho. falar dele com outras pessoas não significa resolve-lo. na verdade vc só fica aporrinhando os outros com coisas que deveriam ser de ordem pessoal! e todo mundo olha pra cara da pessoa e diz: oh...I'm sorry..I'm really sorry.
Haja paciência pra isso!

quarta-feira, dezembro 03, 2003

A Neve e a Jacusi

Numa outra dimensão...Rowe

Eu tinha certeza que iria voltar. certeza. quando vim aqui para assistir a conferência do Giordando eu saquei logo que voltaria. uma comunidade onde moram em média 20 pessoas, nas montanhas do Estado de Massashusetts. uma fazenda com a mesma estrutura de um kibutz: existem tarefas a serem cumpridas por todos aqueles que moram na comunidade. isto significa trabalhar na grande cozinha, na organização e limpeza e no office. o office é responsável pelo ganha pão de todos aqui. este lugar vive de organizar e hospedar conferências normalmente relacionados `a arte, música, filosofia e comida...comida aqui é tudo. tudo é orgânico, muitos são sérios vegetarianos (eu não cai nessa não!). o lugar é super aconchegante e instiga a criatividade. eu fiquei encantada com o Art Room! um galpão enorme cheio de objetos, ferramentas..tudo que se possa imaginar para pintar, esculpir, fazer brincos, colares, colagem...sensacional. descobri tb o basement do dinner room. lá tem todos os acessórios para um office torto.. uma mesa de madeira enorme onde tem cabos para conectar internet. decretei meu.


ontem foi um dia tão bom...
Passamos a tarde decorando o living room para a despedida de umas das família. eles seguem rumo ao Colorado. é interessante o fato de eu já ter ido até lá, atravessado o país. eu conheci muitas coisas nesta terra. ontem eu estava ajudando a decorar o espaço, ativando minha criatividade e fiquei muito impressionada com as coisas que posso inventar. o interessante é que eu não tinha a mínima idéia de quem eram as pessoas que iriam partir. eu fiquei muito intrigada ao perceber que estava dando de mim para gente que eu nem conhecia e fiquei feliz ao sacar que eles é que estavam me dando pois esta despedida foi como um pretexto para eu sentar e criar coisas lindas. o living room ficou lindo, lindo mesmo. quando eu entrei depois de algumas horas, as luzes estavam todas acesas e toda a decoração reluzia. quando a família entrou na sala cada um segurava um instrumento e começamos a tocar..tocar..foi muito bacana.

choque térmico

no meio da festa fui convocada a ir para a jacusi. fiquei meio sem jeito porque eu não estava sacando como isso iria acontecer e meu receio foi confirmado. ao chegar lá percebi que a jacusi ficava ao ar livre! o frio aqui é terrível! a atmosfera é branca branca..tudo é neve. todos tiraram a roupa e nus começaram a entrar na água quente. eu fiquei meio sem jeito... e só de olhar a neve em volta me veio um pânico: vou tirar a minha roupa toda e cair nesta jacusi ao ar livre! parecia muita maluquice! mas eu fui...e não me arrependi. lá estava eu, nua, dentro de uma grande banheira de água pelando bebendo vinho e me divertindo com as pessoas mais inesperadas.

Rowe é muito único..eu nunca ouvi falar de um lugar assim.

terça-feira, dezembro 02, 2003

Dias Prateados

Branquinha branquinha. A neve é uma gracinha. Foi a primeira vez que vi a neve. Estamos em Rochester, próximo ao Canadá.

Vida Muderna


Qual é a primeira palavra?

A primeira palavra depois de um longo tempo de expectativas. Tem que ser uma palavra que sintetize num só respiro todas as sensações que experimentei nesta jornada.

Eu na verdade queria escrever sobre as tantas coisas que vejo e sinto. Tento começar mas a impressão que tenho é que toda palavra se torna superficial quando impressa na tela. Parece que toda e nenhuma palavra não consegue expressar minha satisfação de conseguir chegar aonde cheguei. Na verdade eu não cheguei em lugar nenhum eu simplesmente alcancei mais um patamar e logo vou desejar mais e mais e todo este querer e toda esta busca, este esforço, vai virar passado.

Ele disse: comece escrevendo a verdade.

Eu não sei se vou conseguir.
Não sei.
O que sei é que eu vou tentar.


Abro meu querido lap top já no trem. Obviamente sai correndo pelas ruas do Village atras de um taxi. Um ser humano me perguntou qual era meu destino. Aliviado, entrou no meu taxi e juntos seguimos para a Pen Station.

O trem esta lotado!

segunda-feira, novembro 17, 2003

Thompson st

so em NYC

já se foi 1 mês....

outra noite fui ao supermercado da esquina `as 2 da manha. este mercado 'e muito engraçado. cada corredor de prateleiras se refere `a uma rua do village. 'e o único mercado que eu conheço que toca jazz. naquela noite era possível escutar mais do que jazz. na fila do caixa eu prestava atenção na funcionaria sonolenta. Meu ouvido estava confuso. se eu chegasse um pouquinho pra frente eu reconhecia a salsa cubana..um pouquinho pra atrás .. a voz de Nina Simone.
não 'e incrível. a salsa da plebe nova yorquina que trabalha madrugada a dentro misturada com a sofisticação do jazz. so em Nova York acontecem estas coisas...

sexta-feira, outubro 17, 2003

Muchas Cervezas

yeah dude

ontem foi um dia daqueles...
fui trabalhar e as 10 da noite já não havia ninguém no restaurante. o garçom albanês entrou numa de me dar drinks. o dono não estava lá, nem a mamadona. uma beleza.
as dez da noite, o restaurante vazio, eu, o albanês e o camareiro mexicano bebendo no bar. arrastamos as mesas e daqui a pouco estávamos todos bailando numa grande pista de dança. os mexicanos saíram da cozinha e surpresos perceberam a farra no salão. sentaram no bar e o albanês já foi trazendo cervezas...
3 horas depois, bêbada, estava eu subindo 6 lances de escada para depois mergulhar na cama.


sexta-feira, outubro 10, 2003

La Putanesca

La putanesca
o garçom fala uma língua estranha com a mamadona. albanês. o outro e de kosovo e me explica que tb se considera albanes porque kosovo, Iugoslávia, tcheco Eslováquia e tarara. o camareiro e húngaro. quando chego na cozinha escuto espanhol. o cozinheiro e equatoriano e se chama Miguel. ele me apresenta seus assistentes. mexicanos. a nova
bartender é loiríssima e tem olhos azuis. e da Rússia. trabalho num restaurante italiano. de italiano só La putanesca, um
dos aperitivos do menu.

a máfia albanesa chegou em Nova York junto com a russa e simplesmente tomou o espaço da máfia italiana criando restaurantes de culinária...albanesa? não, italiana. servem como fachadas de negócios escusos que a minha curiosidade de jornalista, fresquinha, fresquinha, quer investigar mas que a minha sanidade, ainda que pouca, não me deixa ousar em tentar.

o pirado do metro

o metro em Nova York já e um grande evento. outro dia estava eu sentada praticando meu subwayspanhish lendo todos os avisos de perigo escritos em espanhol quando um carinha entrou numa de não sair da porta do vagão...stay clear of the closing doors please...o cara continuava na porta e o negão a sua frente começou a reclamar.
get out of the fucking door man! o ser humano se descontrolou e de repente o condutor do vagão estava aos berros com o pirado dizendo que ia chamar a policia. meia hora se passou e o negão já estava junto com o condutor e todo o metro pulando em cima do pirado. um grupo de estudantes de cinema da universidade de nova york surgiu do nada (do nada!) com câmeras a postos e um grande espetáculo se formou. ficamos parados 40 min quando a policia chegou e colocou ordem no recinto. eu sento novamente e duas mulheres a minha frente me perguntam: que paso?

ilegal world

Ao lado do restaurante albanes, ou seja, italiano, existe um café também italiano (o dono 'e legitimo) onde trabalhei por um único fim de semana. fiquei sabendo do trabalho através do garçom de outro restaurante italiano (será albanes?) onde comi um delicioso almoço depois de dias subindo 6 lances de escada (moro no sexto andar de um prédio sem elevador) com apenas um bagel no estômago. o milagre do cartão de credito do papai... a paulista do café simplesmente foi com a minha cara e me contratou. Rita veio aos estados Unidos na cara e na coragem, sem uma palavra de inglês no bolso. começou lavando pratos e assim ficou por 5 meses. a mulher, esperta pra caramba, pegou o inglês na raça e dai começou a atender mesas. hoje e gerente deste café. junto com ela trabalham um mineiro que já rodou tudo quanto e cozinha neste pais, um polonês pintoso pintoso, uma turca com um nome engraçadíssimo, gul, e claro, mexicanos na cozinha. todos são completamente inexistentes nesta sociedade.