terça-feira, dezembro 28, 2004

Na crista da onda..há há há

Quando eu penso onde estava há um ano atrás e onde estou hoje fico impressionada. Como fiz tantas coisas... como eu sofri pra caralho e dei a volta por cima. cara... no dia 31 de dezembro de 2003 eu estava numa casa com pé direito altíssimo, no interior do estado de Nova York. A minha volta, somente pessoas desconhecidas, livros e neve, muita neve. Nem consigo imaginar hoje a dor que estava sentido. A incerteza, a angústia....os dias monocromáticos.. não tinha a mínima idéia do que seria de mim. Tinha a noção, pelo menos, que algo estava para acontecer e isso é que me mantinha de pé, eu estava em pedacinhos mesmo. Mas ainda não vislumbrava a volta por cima.

Pois voltei mesmo. Um ano depois estou assinando a escritura da minha casa própria! Estou bancando um AP, só meu!!!!!! Quando estou emburacada , lá de baixo, não enxergo luz nenhuma... mas chega uma hora que até a tristeza cansa e sinto uma vontade orgânica de olhar adiante e acreditar que a luz pode não estar aí mas ela vai chegar! Quando vejo uma fresta sigo o embalo e veja só: Helena, onde vc está hoje?

Mas aí começo a pensar que depois do tempo bom lá vem a tempestade... é..... seria muita ilusão achar que a maré sempre vai estar para peixe. Eu, como não canso enquanto não consigo o que almejo.... quando encasqueto com uma coisa... Pode dar certo, pode dar errado...por enquanto está tudo muito, muito bem. daqui a pouco a onda quebra. Esta percepção começa a me dar um calafrio... cheguei a conclusão que não tenho medo do mundo. Tenho medo é de mim mesma! eu não consigo me trair..

domingo, outubro 24, 2004

Ser adulto é muito chato

Vários domingos se passaram pra encontrar um apartamento. Criei todo um método: sentar `a mesa, abrir os classificados, identificar possíveis apartamentos, quarto e sala, recortar, colar no meu caderninho, ligar para os telefones indicados e fazer as perguntas básicas anotando tudo ao lado. é de fundos? tem vista livre ou dá pra parede? quantos por andar? tem garagem na escritura? faço um roteiro com o intervalo de 20 minutos entre cada visita e pronto: começo a maratona.

ou dá de cara pra favela ou precisa de reformas porque é muito velho. se está barato, a documentação está ruim. Se tivesse um pouquinho mais...

Começando a considerar a ideia de pedir um empréstimo chego a sentir uma pitadinha de esperança em ter este pouquinho a mais. sento no computador com o meu pai e fazemos simulações de empréstimos imibiliários em bancos.

juros: 12%! doze! do-ze. tudo bem, todo mundo já sabe disso. todo mundo reclama disso, isso é um absurdo, em outros países o máximo chega a 4%... e o banco central, e a economia, enfim, estes clichês estão em todos os jornais.

Mas quando se é jovem a percepção disso bate fundo quando acontece pela primeira vez. porra: pra pedir 30 mil são prestações de tipo 600 reais em 15 anos! quinze! quin-ze.

já é difícil ter um salário digno de uma prestação de 600 reais e ainda ter que manter por 15 anos!

mas já entendi que é burrice de minha parte achar que eu não vou ter que encarar o compromisso que a aquisição de um patrimônio demanda. é melhor comprar do que alugar, afinal, se eu resolver vender mesmo sem quitar as prestações, passo a dívida pra alguém e pelo menos saio com o que investi e um pouco mais.
mas é punk. manter e querer um emprego fixo, pagar tantos juros, arcar com tudo isso....
também entendi que é burrice da minha parte achar que posso adiar minha chegada ao mundo dos adultos.
crescer é um saco.


quarta-feira, outubro 06, 2004

The Corporation

A CORPORAÇÃO
THE CORPORATION
Canadá, 2003



Documentário inspirado no best-seller de Joel Bakan sobre os poderes das grandes corporações no mundo contemporâneo. Bakan toma como ponto de partida a polêmica decisão da Suprema Corte americana, concluindo que uma corporação, aos olhos da lei, é uma "pessoa". A exploração da mão-de-obra barata no Terceiro Mundo e a devastação do meio ambiente são alguns dos fatos explorados pelos diretores, que entrevistam presidentes de corporações como a Nike, Shell e IBM, além de Noam Chomsky, Milton Friedman e Michael Moore. Prêmio do público no Sundance Film Festival de 2004.

Direção/Direction: MARK ACHBAR, JENNIFER ABBOT
Roteiro/Screenplay: JOEL BAKAN
Produção/Production: MARK ACHBAR,BART SIMPSON
Fotografia/Photography: MARK ACHBAR,ROLF CUTTS,JEFF KOFFMAN,KIRK TOUGAS
Montagem/Editing: JENNIFER ABBOT
Música/Music: LEONARD J. PAUL
Cor/Color 35mm 145min

segunda-feira, outubro 04, 2004

Estamos no Inferno ou ainda temos alguma chance?

NOSSA MÚSICA
NOTRE MUSIQUE/OUR MUSIC
França/Suíça, 2004

Sinopse: Um filme em três partes: inferno, purgatório e paraíso. No inferno, imagens da guerra. Aviões, tanques e navios, explosões, execuções, populações em fuga, campos e cidades devastados. Imagens silenciosas, quatro frases, quatro peças musicais. No purgatório, a cidade de Sarajevo contemporânea, martirizada como tantas outras. Personagens reais e imaginários. Uma visita à ponte de Mostar enquanto ela é reconstruída representa a passagem da culpa ao perdão. No paraíso, uma jovem mulher, que vimos no purgatório, encontra paz à beira d¹água, em uma pequena praia guardada por fuzileiros navais norte-americanos. O filme participou do Festival de Cannes de 2004, fora de competição.

Direção, roteiro e montagem/
JEAN-LUC GODARD
Produção/Production:
JEAN-PAUL BATTAGIA, ZYBA GALIJAVESIC
Fotografia/Photography:
JULIEN HIRSCH, JEAN-CHRISTOPHE BEAUVALLET
Elenco/Cast: SARAH ADLER,NADE DIEU,RONY KRAMER,GEORGES AGUILAR, LETICIA GUTIERREZ, FERLYN BRASS
Cor/Color 35mm 80min

Sensacional a questão do quadro e contra quadro, a verdade tem duas faces. o imaginário é certeza e o real é incerteza... engraçado como os filmes que vi se conectam....em Os Sonhadores, os gêmeos viviam num mundo imaginário exatamente para preservar suas certezas. para ilustrar esta reflexão sobre a verdade, o Godard contou a história de uma jornalista israelense que vive na frança mas é sua família é de origem russa. ela quer entrevistar uma personalidade palestina, um nome respeitado, um cientista político...e descobrir a verdade no oriente médio. isso acontece na fase purgatório do filme, quando seria a última possibilidade de reflexão, para uma possível transformação e assim evitar o que ele nos mostrou em Inferno. nesta fase entram várias coisas interessantes, ele brinca com o espectador, mostra os quadros invertidos... ele mesmo está no purgatório...tem tb uns índios americanos que surgem no filme...o cara é bom.

o paraíso ficou pro final. mas não captei muito bem qual era a do paraíso..porque a jornalista não enxerga, não decifra o que ele coloca fora do quadro...mas eu associei ao poema de Carlos Drumond de Andrade...Verdade.



JEAN-LUC GODARD

Nasceu em Paris, na França, em 1930. Radicou-se na Suíça. Foi crítico da revista Cahiers du Cinema e estreou na direção de longas-metragens em 1960 com Acossado. Tornou-se um dos mais importantes cineastas da geração da Nouvelle Vague francesa. Dirigiu, entre outros, O desprezo (1963), Band à part (1964), Alphaville (1965), Salve-se quem puder: A vida (1980), Cuide da sua direita (1987) e Elogio do amor (2001).

terça-feira, setembro 28, 2004

Um Sonho

meu mais novo filme favorito! do meu querido diretor preferido Bernardo Bertolucci!!!

The Dreamers


I SOGNATORI/THE DREAMERS
Itália/França/Estados Unidos, 2003

sinopse: Paris, 1968. Sozinhos em seu apartamento enquanto os pais viajam, os irmãos Isabelle e Theo convidam um jovem estudante americano para passar um tempo com eles. Matthew, que está fazendo intercâmbio estudantil na França, divide com os irmãos a paixão pelo cinema. Eles se conheceram na cinemateca, onde passavam tardes e noites assistindo a filmes. Os três se trancam no apartamento e dão início a uma aventura de autoconhecimento e de exercício do desejo, enquanto lá fora eclodem os protestos estudantis de maio de 68. Selecionado para o Festival de Veneza de 2003, fora de competição.

Direção/Direction: BERNARDO BERTOLUCCI
Roteiro/Screenplay: GILBERT ADAIR
Produção/Production: JEREMY THOMAS
Fotografia/Photography: FABIO CIANCHETTI
Montagem/Editing: JACOPO QUADRI
Elenco/Cast: MICHAEL PITT,EVA GREEN,LOUIS GARREL,ANNA CHANCELLOR,ROBIN RENUCCI

Cor/Color 35mm 130min

Muito maravilhoso! tudo! como em todos os filmes dele, a direção de arte é um primor. tudo parece mágico e belo. as roupas, o cenário, fotografia. tudo parece uma pintura. os personagens são sedutores, lógico que a mulher é linda, mas as mulheres de Bertolucci, mais do que bonitas, são charmosas. A Isabelle é charmosérrima, irmã gêmea de Theo. ambos seduzem um carinha americano que estava fazendo intercâmbio cultural em Paris de 1968. o americano acaba ficando na casa deles por 1 mês e neste tempo eles criam uma relação viciante. ficam em casa, uma casa sensacional por sinal, estilo antigona, conversando, ouvindo música, e tomando banho de banheira..os três numa banheira! numa das cenas o rosto dos três se reflete no espelho...



eles têm esta brincadeira de ficar perguntando que filme é esse? que é isso? e quem não souber paga uma prenda. Theo pergunta para eles sobre algum filme e por não saberem a responta theo exige uma prenda: que Isa transe com Mathew. ele se desepera mas acaba aceitando e descobre que Isa, apesar da relação incestuosa que mantem com o irmão, é virgem. a cena é linda demais.



Mas, existe um contraste na percepcão de mundo do americano e dos dois que são franceses. enquanto os gêmeos têm uma idéia romantizada de revolução, o americano é mais pé no chão. ele reconhece que o real é mais duro que a imaginação, onde nossos ideais são mais possíveis. Theo prefere se alienar do mundo para manter suas ideias comunistas e revolucionárias cristalizadas enquanto Mathew exerga a realidade e relativiza. mas ele tb é romântico, acredita que o amor é mais eficiente que a revolucão.

isso me tocou muito porque existe este dilema dentro de mim. até que ponto a consciência do real limita nossas atitudes. isso me lembra até code 46 quando ela fala: vc mudaria suas atitudes se soubesse de antemão as consequências que elas causariam?

vale a pena se entregar por um ideal mesmo sabendo o preço alto que se tem que pagar por isso? é melhor ir aos pouquinhos usando a teoria de que tudo tem o lado bom e o lado ruim? isso não dilui demais a nós mesmos? não torna tudo muito relativo e chato?

mas se entregar a aquilo que se acredita e levantar bandeiras não é fechar os olhos para o outro lado da moeda? tomar partido de uma causa demanda cegueira? ser cego de um olho para não ver o outro lado e assim resguardar energia para investir naquilo que se acredita....talvez seja esse o papel social dos revolucionários: carregar suas verdades absolutas e irredutíveis.

se Theo e Isabel não fossem alienados e não idealizasse a entrega, a revolução, não teriam enfrentado a polícia e ido para frente da passeata? talvez se não fossem assim, saberiam que iriam pagar um preço muito alto, talvez a própria vida. talvez teriam bastante lucidez, o suficiente para não fazer o que acreditaram ser importante a ser feito.

Mathew era mais lúcido que eles e não quis se jogar. viveu, mas será que foi feliz? é melhor ser intensamente feliz por 1 minuto ou ser mais ou menos feliz por 1 hora?



BERNARDO BERTOLUCCI

Nasceu em Parma, na Itália, em 1940. Aos 21 anos, foi assistente de Pier Paolo Pasolini em Desajuste social. No ano seguinte estreou como diretor com La commare seca, selecionado para o Festival de Veneza. Desenvolveu sólida carreira tanto na Itália como no exterior. Entre seus filmes mais conhecidos e premiados estão O conformista (1970), O último tango em Paris (1972), O último imperador (1987, vencedor de nove Oscar, incluindo melhor diretor), e O céu que nos protege (1990).

segunda-feira, setembro 27, 2004

Festival do Rio



Cabines
Code 46 - interessante - no futuro as pessoas nascerão de fertilização in vitro e clonadas a partir de um mesmo DNA. a cada 100 pessoas, 25 terão o DNA muito parecido e por isso não poderão ter filhos, isso seria a violação do código 46. o idioma é uma mistura de todos os idiomas do mundo. eles conversam e surgem palavras em francês, inglês, espanhol..árabe, tudo. adoro a atriz irlandesa Samantha Morton, de Morven Callar e American Dream. ah, a trilha é muito boa, bem estilo U2. minha frase preferida: vc mudaria suas atitudes se soubesse as consequências que elas causariam?

Torremolinos 73 - legal porém nada de mais - a cena final emociona e gostei de reparar nos figurinos e cenografia, o filme se passa na década de 70 na Espanha e Torremolinos fica em Málaga. um casal fudido de grana aceita fazer filmes de sacanagem achando que seriam filmes com cunho científico... ela é louca para engravidar e mesmo fazendo uma porrada de filmes com o marido não engravida. acaba ficando famosa nos países Nórdicos, onde faz o maior sucesso como atriz pornô sem saber. o marido fica expert em cinema e acaba rodando um filme em que a mulher é a protagonista. é hilário as referências a Sétimo Selo (ele fica vidrado em Bergman). no final ela faz sexo com o ator e não deixa ele gozar fora..o marido assiste a cena pelo visor da câmera...chora..e ela olha no olho dele.

whisky - do tipo filme melancólico - na argentina um senhor amargurado tem uma fábrica de meias e recebe o irmão que mora no Brasil há anos. ele cria uma farsa fingindo estar casado. para isso conta com a ajuda de uma funcionária da pequena fábrica. o filme tem quadros lindos mas é tão melancólico....

um vazio em meu coração - bizarro no estilo escatológico - horrível! odiei. no mundo de hoje recebemos toneladas de informações e temos que saber editar nossas vidas, o que é lixo deve ser evitado. portanto, saí nos primeiros 20 minutos de filme porque tinha mais o que fazer. no sense escatológico não vale.

Kill Bill vol 2 - SENSACIONALLLLL!



achei melhor que o primeiro porque não tinha aquela coisa dos braços respingando sangue... no volume dois os diálogos estão mais interessantes e as cenas de lutas com mais sentido. a luta dela com a Daryl Hannah é poderosa com detalhe para o olho esmagado que é ótimo! o diálogo com Bill é muito instigante. a trilha é muito foda e a produção de arte tb! muito bom.

segunda-feira, agosto 30, 2004

Todas as paisagens possiveis

São tantas as paisagens possíveis! o mundo está cheio de possibilidades... para uma geminiana como eu então! existem muitos caminhos. a vida parece análise combinatória.

Isso tudo está muito vago

mas é que eles pareciam ver somente o feio e sujo. estavam todos cinzentos e mal-encarados. pareciam ratos infurnados num buraco reclamando da vida e remoendo o passado.
falavam de uma tal reforma. uma reforma que havia transformado a realidade. agora estava constantemente colorida, cheirosa como um buque de flores.

eles estavam fedorentos. um homem pedia compaixão pela morte marcada. a menina extravasava a dor pela indiferença da mãe. ela falava da ausência de amor incondicional, não sei se queria demonstrar a vontade de um colo sem julgamentos. os outros escutavam.

ele, o líder, sugava de todos toda a dor. parecia o mais angustiado. era contido. tinha os músculos retraídos. ali ele queria fazer os outros compartilharem de sua visão do mundo mas sua visão de mundo era outro mundo.

o outro lado. a porta que dá em nossos infernos. o lado escuro dentro de nós. onde guardamos o que rejeitamos em nossa personalidade. nossa feiura está guardada em gavetas escondidinhas em nossa mente. evitamos fazê-la transbordar. já é difícil ver nossa miséria imagine se deixar flagrar por ela diante dos outros?!
mas ele fazia questão de nos fazer exibir nossa própria miséria ! por que?

foi o que um deles perguntou. um cara meio desequilibrado em sua fala. parecia o vulnerável. tinha gestos meio trêmulos. ele sabia que existia a feiura mas não queria desejá-la. sentia inveja daqueles que não a enxergavam e, do porão de sua mente, no andar de baixo, olhava pela brecha da janela as pessoas andando lá em cima. estampavam sorrisos plásticos. estavam do outro lado da porta.

acho que quando saía do porão devia acumular mais inveja e alimentar seu rancor. o líder sabia disso. por isso, quando o rancoroso trouxe aquela mulher, ele não disse nada. talvez naquele momento o rancoroso estivesse colocando para fora sua feiura escondida. o medo de sua própria percepção da realidade.

aquela mulher não sabia daquela tal reforma, quando todos tinha se tornado iludidos, seres perfeitos. ele sentiu desejo pela ignorância daquela mulher. queria dela o desconhecimento da nova realidade. ela ainda era uma ser humana sabia que ela não havia tapado os buracos com sorrisos de plásticos .sua feiura ainda estava coexistindo com o belo e ela ainda não tinha sido forçada a enxergar o outro extremo de seu eu. tinha dormido para sempre e não conhecia aquela angústia. não sabia que os homens haviam se negado a imperfeição e que naquele hoje, achavam que eram seres absolutos, felizes absolutos. aqueles não seriam homens reais, seriam homens de plásticos e exatamente por isso os fedorentos, remanescentes de seres humanos, estavam ali, remoendo suas imperfeições falando de coisas feias da humanidade.

a reforma havia tingido a vida, tornado tudo constantemente belo, tudo estava insustentavelmente bonito. todas as pessoas eram impossivelmente boas.
o líder trazia a tona o passado. queria deixar claro que a reforma era vazia porque ninguém havia se reformado ao aprender com os próprios erros. para aprender é preciso não ignorá-los. por isso ele queria desenterrar os fantasmas para curar o futuro iludido.

mas o rancoroso não chegou a alcançar a mensagem de seu líder. ele compartilhava da mesma percepção mas não sabia lidar com ela. foi então que decidiu aliviar sua angústia. não queria mais ver aquilo que aqueles tb percebiam. pensou que destruindo o olhar daquele que o fazia enxergar sua miséria, poderia se esquivar de seu lado humano e assim se tornar mais um homem plástico.

assim arrancou os olhos daquele que via.

e aquele que via morreu vendo somente o lado escuro, nossos infernos.

não está vago não

eu digo que minha realidade é aquilo que vejo. meu mundo não é exatamente o mundo como ele é não tenho a pretensão da verdade. mas ele é meu temível inferno e minha almejável luz. vejo minha miséria com dignidade. não quero ser de plástico. mas busco o belo. por isso penso que sou daquelas pessoas que partem do sim. e do sim existem mil paisagens possíveis.

sábado, julho 31, 2004

Batom Vermelho

Hoje eu vou fazer um teste: vou falar só a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade. Estou de saco cheio de tamanho nhenhenhe, tanta hipocrisia babaca. ninguém fala mais a verdade. Está todo mundo preocupado em manter a pose, em fazer joguinho e eu estou de saco cheio. Se o cara só quer me comer então chega logo e fala: oi, eu quero te comer ou então não vem com cantada barata dizendo um bando de clichê. Eu também não vou mais ficar aqui fingindo que gostei e que me senti especial e isso ou aquilo. Esse papo está muito chato.
Ninguém mais opina em nada, porque se opinar é tachado de radical e aí sua imagem fica rotulada. Então o artista não pode mais dizer o que pensa porque pode não agradar a gravadora, o patrocinador, o telespectador e mais não sei quem. Não vão querer associar nada`a imagem do cara e aí ele perde dinheiro. neguinho se auto-censura por dinheiro! puta que pariu! não pode mais dizer o que pensa porque seu ponto-de-vista pode não ser vendável e então fudeu. ah! que merda é essa!
A mesma coisa com o amor. Ninguém pode mais dizer o que pensa pro outro, ser espontâneo, ligar, ser natural. isso pode assustar o outro. pode parecer querer compromisso, limitar liberdades. vai pra puta que pariu. ninguém mais quer dar de si, dizer o que sente, o que pensa, pode parecer infantil, pode parecer intenso demais.



Pois eu sou intensa e que se foda. eu não vou ficar aqui fingindo, me auto-controlando. eu sou assim, penso assim e pronto.
vou me testar hoje. se chegar em mim vai saber na lata que eu sou assim, nota 0 ou nota 10, nota 6 pra mim não funciona. Tenho horror a meio-termo. Quer ou não quer. Ou vai ou racha. Não quero ficar mais gastando meu tempo com palhaçada, Essa retórica idiota de depende.
Depende é o caralho. Eu estou me assumindo hoje. Coloquei meu batom vermelho. Sei que vai ser foda bancar essa porra toda mas não vale a pena de outro jeito. Hoje chega de fachada.

quinta-feira, julho 22, 2004

Associações Livres

"Como o adivinho me disse em Atenas, você está andando em círculos procurando o caminho claro e aberto. Você nasceu para trazer a alegria e iluminação para o mundo, mas primeiro tem de aceitar a si própria e parar de se esconder atrás de máscaras inventadas pelos outros. Você tem sinais de divindade, mas seus pés estão acorrentados à terra"
Jong, Erica, 1940 - Memória Inventada pg. 165.

Me lembro do sonho que tive no ônibus em direção à Antigua Guatemala:
Estava com um amigo, os dois diante de uma cigana. Ela tirou três cartas. A primeira tinha figuras mistas de seres humanos e animais e senti a cigana se referir a festas e novidades.
A segunda me deixou bastante intrigada. A cigana me passou uma angústia pelos olhos receosos que me miravam preocupados. Na carta estava eu olhando adiante uma escada com degraus curtos e patamares longos. Ao final existia uma porta. Fechada. Tudo tinha um tom meio amarelado, tive a sensação de deserto, uma sensação que conheço. No primeiro patamar a minha frente vi um crânio, ossos sem pele e pensei no que ele significava para satisfazer a curiosidade sobre tudo que poderia estar por trás daquela porta distante.

A terceira carta era nublada, enfumaçada. O que vi foram silhuetas de faces desfiguradas. Faziam interseção e assim a névoa se misturava.



Uma noite me perdi nas ruelas de Varanasi. As ruas eram escuras e sujas. A atmosfera sombria não passava medo e sim mistério. Eu e Chyntia saímos tarde do concerto de sitar que assistimos no terraço de um hotel. Fomos convidadas por um brasileiro, o único que encontramos pelo Oriente. Percorríamos as vielas em busca de um tuc tuc, bicicleta, qualquer transporte que nos deixasse no hotel que estávamos hospedadas. Andando por um longo tempo percebemos que sempre passávamos pelo mesmo ponto. Uma fogueira. Homens sentados em volta do fogo, ele, o fogo, nos trazia sempre para o mesmo ponto. 


terça-feira, junho 22, 2004

nó na garganta

Estranha esta coisa da minha voz. Eu sempre achei ela um tanto infantil, aguda. Um dia escutei a minha voz no som de um gravadorzinho. Senti uma coisa esquisita, um estranhamento de mim mesma. Como posso ter uma voz tão feia! Pareço uma menina metida e insolente… eu fiquei envergonhada, me sentindo um mísero ser humano daqueles bem normais que têm paranóias e complexos completamente bobos mas que sabem que isso é perfeitamente ordinário. Todo mundo têm essas coisas dentro de si, esse medo de parecer ridículo. Ou pelo menos eu tenho .

Outra festa eu encontrei uma amiga que me supreendeu. Disse que algo tinha mudado em mim, que tinha a ver com a minha voz. Senti um calafrio: como assim ela sabe?

Eu estou trabalhando muito minha voz.

Trabalhando eu uso muito a minha voz. É a minha principal ferramenta. Eu tenho que articular, formular idéias, conversar…falo muito. Começo escrevendo, esta é na maioria das vezes, a primeira etapa. Depois pego o telefone. Aí eu tenho que falar pra caralho. E a voz é muito importante! como poderia eu ter aquela voz de pirralha metida e melosa. Tenho que ter uma voz que carrega outros conceitos, nunca uma bobinha dando pinta de graciosa.

E ela reparou cara! Ela reparou o meu esforço em passar determinação, concisão, objetividade, confiança. Parece tão idiota, como me sinto ridícula realizando isso para mim mesma (ou será eu mesma) que eu me auto reprimi quanto `a minha voz, incorpando-a, tornando-a uma voz visualmente grande. Foi uma decisão tão íntima..relacionada a meus pensamentos mais lá dentro, que só eu sei..e que parecem tão pertinentes, tão grandes para mim e que ao mesmo tempo são tão pequenos, tão tipicamente humanos e que por isso TODO mundo tem.

Se funcionou ou não….sei lá. hamse hamses e saravas a parte eu me desgastei. passei do limite. Estou há dias com um incômodo na garganta.. não é dor de garganta clássica, de tosse de gripe não. É um incômodo que deixa minha garganta seca e arranhada.

Somatizei.

quinta-feira, junho 17, 2004

Sex and the city

Asian Groove,

Recebi um convite para o lançamento do selo Putumayo no Brasil. O convite me remeteu a momentos que vivi nos tempos de reviravolta da minha vida. Toda lojinha que entrava no universo raribô americanóide tinha lá CDs Putumayo..que são até interessantes. São releituras de canções folclóricas de culturas pelo mundo afora feitas por DJ...world music no estilo lounge.
O lançamento foi no 00, restaurante no estilo SEX and the City, que parece aqueles bares descolados para comercial de Campari. Para esta balada obviamente chamei minha amiga no estilo Samantha. Lá fomos nós.

De cara a gente saca que é um mundinho tão específico..de gente meio gávea-leblon... eu sou garota do Flamengo..zona sul mais humilde.. mas estamos com bala na agulha e pedimos drinks! Mojito foi minha pedida..
Lá pelas tantas nos surpreendemos com um carinha usando fio dental nos dentes em pleno comercial de campari! O cara estava acompanhadíssimo de outro cara...cada um na sua...o cara não queria ficar com sujeira nos dentes afinal de contas estava, quem sabe, num date com seu querido.

Tinha 1 cara meio coroa com um colete meio turco. O cara parecia meio fotógrafo da National Geographic estiloso... gatoso..ficamos olhando pra ele. Ele sacou. Mas não deu em nada.

O que rendeu foi o sorteio! Não faço o tipo que ganha em sorteios mais saí de lá com um CD Asian Groove... gostosinho... fomos mais espertas que a Carrie e a Samantha. Elas sempre são barradas nos restaurantes em NYC. Estamos longe de Mannhattan mas não pagamos entrada, bebemos drinks, fizemos pose de chique e ainda voltamos para casa com um CD no bolso...
Há!

quarta-feira, março 31, 2004

Me senti nua

Texto que escrevi no avião, regressando de Nova York

Nua sem meu bloco laranja

Chuva. Muita chuva caindo em Nova York nesta tarde de terça feira. Atrasada pego o meu onibus rumo ao aeroporto JFK na Times Square e assim, olhando a chuva pela janela, digo adeus a Mannhattan.
Chego em cima da hora, faço o check in e ninguém me pergunta nada, ninguém revista nada e eu entro correndo pelos corredores do aeroporto para chegar o meu portão de embarque. Meu destino é o Rio de Janeiro com escala em Atlanta onde tenho que trocar de avião. Já embarcando o oficial do departamento de imigração do governo dos Estados Unidos pede meu passaporte e desconfiado de não sei o que, pede que eu aguarde ao lado. Enquanto esperava reparei que os passageiros eram abordados de forma aleatória, mas somente não americanos eram abordados. Concentrei minha atenção `as perguntas que o oficial fazia ao mineiro também “pescado” entre os passageiros na fila de embarque. O oficial parecia querer encontrar alguma coisa. Perguntou o porque da viagem, se o brasileiro havia trabalhado nos EUA…em um determinado momento ele chegou a dizer:: “onde esta o green card falsol?” O mineiro soltou uma gargalhada brasileira, daquelas bem gostosas e disse: “isso você ano vai encontrar de maneira nenhuma companheiro.”
Chegou a minha vez. Um dois oficiais já havia começado a fazer as perguntas de praxe e eu repetia: “sou mochileira, estava viajando pelos Estados Unidos” quando o outro oficial, aquele preocupado em mostrar serviço para as autoridades, começou a revistar a minha bolsa de mão. Ele perguntava o que eu vim fazer no país e eu repetia: “sou mochileira” . Ele dizia que algo estava errado no meu visto porque nele estava escrito “possibility of studying english” e eu havia dito que tinha decido não estudar. “ vc mentiu as autoridades” ele dizia. Com arrogância ele continuava: “Quantas vezes vc veio aos Estados Unidos? Duas? Você pode ter certeza que eu vou assegurar que está seja a última vez e que você não possa mais voltar a este país…como vc consegue dinheiro para viajar?” Eu expliquei que havia juntado um boa quantia de dinheiro e que, sendo jornalista independente, eu escrevia matérias e tentava vendê-las a veículos de mídia independente no Brasil, assim eu fazia dinheiro enquanto viajava.
Então ele encontrou meu bloco laranja. Este bloco é como um diário para mim, onde eu anoto meus contatos, minhas fontes, informações sobre tudo que acho interessante, meus pensamentos mais absurdos. Ele se achou no direito de ler meu bloco laranja. Com meia dúzia de palavras que sabia em português começou a especular sobre minhas anotações. Endereços, telefones, ele perguntava: “aonde vc trabalhou?” e eu não trabalhei em lugar nenhum! Sou jornalista, viajo em busca de histórias e este bloco é meu instrumento de trabalho! Uma das anotações correspondia a palestra de Ellen Scherder que, na conferência “reframing 9/11” comparou a política de segurança interna adotada pela administração Bush `a era Mcartney quando comunistas eram perseguidos pelo governo americano. O oficial começou a rir com o que tinha lido e em voz alta lia ao colega: “ela compara Mcartney a Bush”. Ai eu me irritei mesmo. Primeiro, não fui eu quem comparou, foi Ellen Scherecker…..segundo que, mesmo que eu achasse isso, é a minha opinião, escrita no meu bloco laranja! “Quem disse que vc pode invadir meu espaço desta maneira? Vc esta lendo o meu diário! Quem lhe deu este poder? Ele respondeu “O departamento de imigração do governo dos Estados Unidos que é responsável pelo controle de entrada e sadia de pessoas como vc para assim assegurar proteção ao nosso povo”. Certo. Enato o governo americano cria uma lei que permite a invasão da minha privacidade, cidadã brasileira?

Ellen Schereder na mesma palestra disse: “O Patriot atc é uma invasão em nossas casas justificada pela proteção do nosso povo”.

sexta-feira, março 05, 2004

Depois de 6 meses...a chuva lava minha alma

A chuva anunciou sua chegada com uma nuvem cinza, bem ranzinza. Estávamos descendo as ladeiras de Santa Teresa conversando, platicando…Carolita se mudou há pouco tempo para Santa e fala com carinho sobre o brilho e simplicidade do bairro.
De repente a chuva veio e com força descarregou tudo em cima da gente, das casas, dos carros, dos cachorros. As pessoas paravam e conversavam embaixo da marquise tagarelando absurdos do dia a dia.
- Eu gosto deste tipo de chuva. Aquela que fica em cima da gente nos seguindo, fininha, fininha, é muito civilizada. Esta é uma chuva visceral. Disse Carolita.
Nesta altura a chuva já tomava conta dos nossos corpos e as roupas estavam praticamente encharcadas. O guarda-chuva que ela trazia já tinha se tornado irrelevante.
Virando uma esquina daquelas de curvas bem fechadas que desenham o percurso até Santa avistamos um carro e imediatamente percebemos a possibilidade de uma carona já que o motorista estava sozinho. O engraçado é que nossos olhares se cruzaram e instantaneamente eu soube o que se passava na cabeça da Carol e na dele também: ele sentia que devia ajudar.
Entramos no carro e a viagem demorou o tempo dos comentários superficiais sobre a chuva. Descemos próximo a estação de metro e lá nos separamos. Carolita tinha uma promessa a cumprir. precisava comprar a camiseta do Flamengo, foi a promessa que fez depois que o time ganhou a final contra o fluminense, um clássico no maraca em meio ao sábado de carnaval carioca.
Eu estava indo pra casa. Decidi que iria saltar na estação do Largo do Machado e não no Catete, assim a chuva poderia demorar um pouquinho mais…esquisitices, já que a viagem demoraria apenas duas paradas, ou seja, não faria diferença nenhuma. Desci as escadas do metrô Glória e reparei num cara. Ele estava segurando uma mala de instrumento musical e olhava de um jeito meio de quem nunca tinha estado ali. Eu sentei na bancada que fica logo depois da escada e fiquei reparando nele enquanto seus olhos esbarraram no meu. Entramos no mesmo vagão, eu numa ponta e ele na outra. Em pé, ficamos desviando um olhar do outro.
Sai bem rapidinho e vi ele olhando para trás pra ver se eu ainda estava lá. Subi as escadas pensando na cena e logo vi que a chuva não tinha melhorado. Subi as escadas rolantes e me deparei com vendedores de guarda-chuvas. Espertos perceberam a possibilidade de fazer algum dinheiro no instante que a nuvem ranzinza avisava o dilúvio que chegava. Eu, parada na saída do metro junto aqueles que esperavam a chuva passar, fiquei a pensar que não tinha nem o dinheiro de comprar um guarda-chuva.
-cinco real, apenas cinco real o guarda-chuva.
Eu nem cinco real tinha. O senhor que vendia me alertou sobre minha bolsa aberta.
-jovem, olha a bolsa aberta. Tinha olhos azuis bem fortes.
-eu já ia comentar, tinha reparado. Disse o rapaz atrás de mim,
-de qualquer maneira, nem tenho dinheiro. Abri a carteira e encontrei 4 reais. – nem um guarda-chuva posso comprar!
O senhor de olhos azuis foi logo perguntar ao chefe se podia vender por 4 reais
-não posso não..o preço já tá bom. Disse o chefe. Ele havia comprado a mercadoria e chamado outro cara para vendê-la. Foi então que o rapaz atrás falou:
-toma aqui. Um real.
Olhei pra ele com agradecimento calado, sentido. O senhor de olhos azuis foi logo entrando na onda:
- Tá vendo! Tem sempre alguém pra nos ajudar. Eu sou espirita minha filha, sei que nada nos faltará, nem um pãozinho porque sempre alguém haverá de dividir. Essa terra é muito boa. Pra vc vê dizem que foi descoberta pelo Pedro Álvares Cabral mas não foi
- Ué? Se não foi por ele por quem foi? Pergunto eu.
- Minha querida, como se pode descobrir algo que já foi descoberto? Isso aqui era dos índios. Eu sempre digo aos alunos: Cabral não descobriu nada.
- O senhor é professor de história?
- Sou, sou sim..
- Vamô parar com essa conversa fiada e trabalhar! Gritou o chefe.
Eu fui embora com uma sensação muito estranha. Estranha por ser boa e ao mesmo tempo ruim…tem muita gente boa ainda no planeta, especialmente no Brasil. Mas o que um professor de história fazia na porta do metrô vendendo guarda-chuva?

Mas me senti feliz, estou de volta ao Brasil!

quarta-feira, janeiro 07, 2004

Existindo

Neste fim de semana a porta da verdade se abriu. Um grande mestre da Cabala veio promover um workshop sobre o misticismo judaico.
Numa certa noite o mestre tocou o seu tambor e pediu a todos que fizessem perguntas. poderia ser qualquer coisa, dúvida, questão.

Eu acredito que Deus existe simplesmente para me fazer saber que eu não sei de tudo. que eu nunca terei todas as respostas.
Se Deus é tudo e eu também sou Deus,
eu nunca saberei de tudo,
eu nunca saberei tudo sobre mim.
O dia que eu souber será o dia de minha morte.
Isso significa que eu não preciso sentir a angústia e a dor por não saber e gastar fortunas com horas e horas de terapia semanal!
o não saber é que garante minha existência.

Não saber de tudo então é que me faz estar viva?

Um dia um Rabino falou para seu discípulo: você deve viver como se fosse o dia anterior a sua morte.
Então o discípulo perguntou: Mas eu não sei o dia que eu vou morrer.
O Rabino disse: Exatamente!


You have to put yourself in the middle.
to put yourself in the middle you have to go from one extreme to another.
you have to go to the darkness to find the light.

Assim foi este ano, indo de um extremo para o outro. Em fevereiro estava no México pensado jornalismo autêntico dentro do contexto latino americano...investigando o dedo podre americano na realidade latina. Fui a Cuba, para mim um símbolo de extremo. A resistência pura e crua ao imperialismo sujo americano, o último pilar, mesmo que cambaleando, contra a globalização. Eu fui lá, eu vi tudo lá, eu senti tudo lá....

Agora estou aqui, do outro lado, nos Estados Unidos. Estou digerindo isso aos poucos. O que sei é que, ao contrário de todas as viagens que eu fiz onde parece que estou em outra dimensão, onde não tenho muitas preocupações e tal, minha viagem aos Estados Unidos foi muito real. REAL. Aqui não tive romantismos e ilusões. Enfrentei o a vida real, sem maquiagens, perfume ou sei lá o que.

quinta-feira, janeiro 01, 2004

Revira e volta

31 de dezembro de 2003
são 9:30 da noite.
Estou numa casa enorme construída por volta de 1800. Vários cômodos, vários quartos, muitos e muitos quadros, obras de arte e mil vezes mais livros. eles estão por toda a parte.
passei a tarde escrevendo poemas em pedaços de papel que colocamos dentro de velhos pés de meia, de crianças, e penduramos num grande varal. cada pessoa escolhera uma meia e guardara seu poema como uma mensagem para o ano que chega.
daqui a algumas horas.
pensar no ano que passou e pensar em muitas viagens, aventuras, lugares, pessoas, culturas e junto com tudo isso, muitas expectativas.
eu esperei que tudo fosse blue
azul e limpo como o céu, sem nenhuma nuvem, nenhum trovão.
me enganei
ano existe céu claro sem tempestade
felicidade sem tristeza
amor sem desilusão

que este ano seja colher os frutos de tanta aprendizagem
tanto amor e tanta dor