sábado, julho 31, 2004

Batom Vermelho

Hoje eu vou fazer um teste: vou falar só a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade. Estou de saco cheio de tamanho nhenhenhe, tanta hipocrisia babaca. ninguém fala mais a verdade. Está todo mundo preocupado em manter a pose, em fazer joguinho e eu estou de saco cheio. Se o cara só quer me comer então chega logo e fala: oi, eu quero te comer ou então não vem com cantada barata dizendo um bando de clichê. Eu também não vou mais ficar aqui fingindo que gostei e que me senti especial e isso ou aquilo. Esse papo está muito chato.
Ninguém mais opina em nada, porque se opinar é tachado de radical e aí sua imagem fica rotulada. Então o artista não pode mais dizer o que pensa porque pode não agradar a gravadora, o patrocinador, o telespectador e mais não sei quem. Não vão querer associar nada`a imagem do cara e aí ele perde dinheiro. neguinho se auto-censura por dinheiro! puta que pariu! não pode mais dizer o que pensa porque seu ponto-de-vista pode não ser vendável e então fudeu. ah! que merda é essa!
A mesma coisa com o amor. Ninguém pode mais dizer o que pensa pro outro, ser espontâneo, ligar, ser natural. isso pode assustar o outro. pode parecer querer compromisso, limitar liberdades. vai pra puta que pariu. ninguém mais quer dar de si, dizer o que sente, o que pensa, pode parecer infantil, pode parecer intenso demais.



Pois eu sou intensa e que se foda. eu não vou ficar aqui fingindo, me auto-controlando. eu sou assim, penso assim e pronto.
vou me testar hoje. se chegar em mim vai saber na lata que eu sou assim, nota 0 ou nota 10, nota 6 pra mim não funciona. Tenho horror a meio-termo. Quer ou não quer. Ou vai ou racha. Não quero ficar mais gastando meu tempo com palhaçada, Essa retórica idiota de depende.
Depende é o caralho. Eu estou me assumindo hoje. Coloquei meu batom vermelho. Sei que vai ser foda bancar essa porra toda mas não vale a pena de outro jeito. Hoje chega de fachada.

quinta-feira, julho 22, 2004

Associações Livres

"Como o adivinho me disse em Atenas, você está andando em círculos procurando o caminho claro e aberto. Você nasceu para trazer a alegria e iluminação para o mundo, mas primeiro tem de aceitar a si própria e parar de se esconder atrás de máscaras inventadas pelos outros. Você tem sinais de divindade, mas seus pés estão acorrentados à terra"
Jong, Erica, 1940 - Memória Inventada pg. 165.

Me lembro do sonho que tive no ônibus em direção à Antigua Guatemala:
Estava com um amigo, os dois diante de uma cigana. Ela tirou três cartas. A primeira tinha figuras mistas de seres humanos e animais e senti a cigana se referir a festas e novidades.
A segunda me deixou bastante intrigada. A cigana me passou uma angústia pelos olhos receosos que me miravam preocupados. Na carta estava eu olhando adiante uma escada com degraus curtos e patamares longos. Ao final existia uma porta. Fechada. Tudo tinha um tom meio amarelado, tive a sensação de deserto, uma sensação que conheço. No primeiro patamar a minha frente vi um crânio, ossos sem pele e pensei no que ele significava para satisfazer a curiosidade sobre tudo que poderia estar por trás daquela porta distante.

A terceira carta era nublada, enfumaçada. O que vi foram silhuetas de faces desfiguradas. Faziam interseção e assim a névoa se misturava.



Uma noite me perdi nas ruelas de Varanasi. As ruas eram escuras e sujas. A atmosfera sombria não passava medo e sim mistério. Eu e Chyntia saímos tarde do concerto de sitar que assistimos no terraço de um hotel. Fomos convidadas por um brasileiro, o único que encontramos pelo Oriente. Percorríamos as vielas em busca de um tuc tuc, bicicleta, qualquer transporte que nos deixasse no hotel que estávamos hospedadas. Andando por um longo tempo percebemos que sempre passávamos pelo mesmo ponto. Uma fogueira. Homens sentados em volta do fogo, ele, o fogo, nos trazia sempre para o mesmo ponto.