domingo, outubro 24, 2004

Ser adulto é muito chato

Vários domingos se passaram pra encontrar um apartamento. Criei todo um método: sentar `a mesa, abrir os classificados, identificar possíveis apartamentos, quarto e sala, recortar, colar no meu caderninho, ligar para os telefones indicados e fazer as perguntas básicas anotando tudo ao lado. é de fundos? tem vista livre ou dá pra parede? quantos por andar? tem garagem na escritura? faço um roteiro com o intervalo de 20 minutos entre cada visita e pronto: começo a maratona.

ou dá de cara pra favela ou precisa de reformas porque é muito velho. se está barato, a documentação está ruim. Se tivesse um pouquinho mais...

Começando a considerar a ideia de pedir um empréstimo chego a sentir uma pitadinha de esperança em ter este pouquinho a mais. sento no computador com o meu pai e fazemos simulações de empréstimos imibiliários em bancos.

juros: 12%! doze! do-ze. tudo bem, todo mundo já sabe disso. todo mundo reclama disso, isso é um absurdo, em outros países o máximo chega a 4%... e o banco central, e a economia, enfim, estes clichês estão em todos os jornais.

Mas quando se é jovem a percepção disso bate fundo quando acontece pela primeira vez. porra: pra pedir 30 mil são prestações de tipo 600 reais em 15 anos! quinze! quin-ze.

já é difícil ter um salário digno de uma prestação de 600 reais e ainda ter que manter por 15 anos!

mas já entendi que é burrice de minha parte achar que eu não vou ter que encarar o compromisso que a aquisição de um patrimônio demanda. é melhor comprar do que alugar, afinal, se eu resolver vender mesmo sem quitar as prestações, passo a dívida pra alguém e pelo menos saio com o que investi e um pouco mais.
mas é punk. manter e querer um emprego fixo, pagar tantos juros, arcar com tudo isso....
também entendi que é burrice da minha parte achar que posso adiar minha chegada ao mundo dos adultos.
crescer é um saco.


quarta-feira, outubro 06, 2004

The Corporation

A CORPORAÇÃO
THE CORPORATION
Canadá, 2003



Documentário inspirado no best-seller de Joel Bakan sobre os poderes das grandes corporações no mundo contemporâneo. Bakan toma como ponto de partida a polêmica decisão da Suprema Corte americana, concluindo que uma corporação, aos olhos da lei, é uma "pessoa". A exploração da mão-de-obra barata no Terceiro Mundo e a devastação do meio ambiente são alguns dos fatos explorados pelos diretores, que entrevistam presidentes de corporações como a Nike, Shell e IBM, além de Noam Chomsky, Milton Friedman e Michael Moore. Prêmio do público no Sundance Film Festival de 2004.

Direção/Direction: MARK ACHBAR, JENNIFER ABBOT
Roteiro/Screenplay: JOEL BAKAN
Produção/Production: MARK ACHBAR,BART SIMPSON
Fotografia/Photography: MARK ACHBAR,ROLF CUTTS,JEFF KOFFMAN,KIRK TOUGAS
Montagem/Editing: JENNIFER ABBOT
Música/Music: LEONARD J. PAUL
Cor/Color 35mm 145min

segunda-feira, outubro 04, 2004

Estamos no Inferno ou ainda temos alguma chance?

NOSSA MÚSICA
NOTRE MUSIQUE/OUR MUSIC
França/Suíça, 2004

Sinopse: Um filme em três partes: inferno, purgatório e paraíso. No inferno, imagens da guerra. Aviões, tanques e navios, explosões, execuções, populações em fuga, campos e cidades devastados. Imagens silenciosas, quatro frases, quatro peças musicais. No purgatório, a cidade de Sarajevo contemporânea, martirizada como tantas outras. Personagens reais e imaginários. Uma visita à ponte de Mostar enquanto ela é reconstruída representa a passagem da culpa ao perdão. No paraíso, uma jovem mulher, que vimos no purgatório, encontra paz à beira d¹água, em uma pequena praia guardada por fuzileiros navais norte-americanos. O filme participou do Festival de Cannes de 2004, fora de competição.

Direção, roteiro e montagem/
JEAN-LUC GODARD
Produção/Production:
JEAN-PAUL BATTAGIA, ZYBA GALIJAVESIC
Fotografia/Photography:
JULIEN HIRSCH, JEAN-CHRISTOPHE BEAUVALLET
Elenco/Cast: SARAH ADLER,NADE DIEU,RONY KRAMER,GEORGES AGUILAR, LETICIA GUTIERREZ, FERLYN BRASS
Cor/Color 35mm 80min

Sensacional a questão do quadro e contra quadro, a verdade tem duas faces. o imaginário é certeza e o real é incerteza... engraçado como os filmes que vi se conectam....em Os Sonhadores, os gêmeos viviam num mundo imaginário exatamente para preservar suas certezas. para ilustrar esta reflexão sobre a verdade, o Godard contou a história de uma jornalista israelense que vive na frança mas é sua família é de origem russa. ela quer entrevistar uma personalidade palestina, um nome respeitado, um cientista político...e descobrir a verdade no oriente médio. isso acontece na fase purgatório do filme, quando seria a última possibilidade de reflexão, para uma possível transformação e assim evitar o que ele nos mostrou em Inferno. nesta fase entram várias coisas interessantes, ele brinca com o espectador, mostra os quadros invertidos... ele mesmo está no purgatório...tem tb uns índios americanos que surgem no filme...o cara é bom.

o paraíso ficou pro final. mas não captei muito bem qual era a do paraíso..porque a jornalista não enxerga, não decifra o que ele coloca fora do quadro...mas eu associei ao poema de Carlos Drumond de Andrade...Verdade.



JEAN-LUC GODARD

Nasceu em Paris, na França, em 1930. Radicou-se na Suíça. Foi crítico da revista Cahiers du Cinema e estreou na direção de longas-metragens em 1960 com Acossado. Tornou-se um dos mais importantes cineastas da geração da Nouvelle Vague francesa. Dirigiu, entre outros, O desprezo (1963), Band à part (1964), Alphaville (1965), Salve-se quem puder: A vida (1980), Cuide da sua direita (1987) e Elogio do amor (2001).